ESTIMATIVA DE PROPRIEDADES TERMOFÍSICAS

  

Densidade e volume molar de líquidos puros /    rL , VmL

 


INTRODUÇÃO

As determinações experimentais desta propriedade podem ser efectuadas com grande rigor em largos domínios de temperatura e pressão.  Para a maioria dos líquidos orgânicos existe pelo menos uma (ou algumas) medidas experimentais da densidade. A precisão requerida em muitos processos industriais é baixa com excepção de algumas áreas- p.ex. medida e venda de líquidos. Até hoje foram propostas várias técnicas de estimativa da densidade que podemos dividir em dois grupos: (i) os que se aplicam ao líquido saturado e; (ii) os aplicáveis ao líquido comprimido. Nos primeiros encontram-se métodos que utilizam contribuição de grupos. Para um conhecimento detalhado dos métodos veja-se [1]. 

 

MÉTODOS

Nesta página estão incluidos métodos de estimativa da densidade de líquidos puros no estado de saturação e sob pressão.

 

 Considerando a necessidade de dispôr de valores da densidade rigorosos para algumas aplicações desenvolveram-se técnicas de cálculo na secção apropriada. Essas técnicas incluirão futuramente um número maior de substâncias: 

                           CÁLCULO RIGOROSO DA DENSIDADE DE LÍQUIDOS PUROS

 

 

Métodos de estimativa da densidade do líquido saturado:

  - com base na equação de Rackett (1970) [2] :  Gunn e Yamada (1971) [3] , Spencer e Danner (1972) [4] ;   

      Hankinson e Thomson (1979)[5]; Campbell e Thodos (1985) [6].

  - Baseados na contribuição de grupos: Elbro et al. (1991) [7].

 

Métodos para o líquido comprimido:

   - Yen e Woods (1966) [8]; Chueh-Pausnitz (1967,1969) [9]; Thomson et al.(1982)[10];Huang e O´Connel (1987)[11];  

     Chang e Zhao (1990) [12]; Aalto et al. (1996) [13] .

 

Os métodos de estimativa de densidade do líquido aqui considerados são: (i) o de Campbell e Thodos e o de Elbro et al. para o líquido saturado e; (ii) o de Thomson et al., o de Chueh-Pausnitz e o de Aalto et al.  para o líquido comprimido. O  método de Thomson et al. e o de Chueh-Pausnitz permitem estimar também a densidade do líquido saturado.

 

NOTA: Os valores que se indicam nos campos das applets Java são os do metano(valores defeito).

 

 

Líquido saturado

 

JAVA     Método de Campbell e Thodos [6]

No método de Campbell e Thodos a densidade do líquido saturado calcula-se pela equação

                                                                                               

onde M é a peso molecular, Pc e Tc são a pressão crítica e a temperatura crítica. Tr (=T/Tc) é a temperatura reduzida. ZRA é um parâmetro fundamental (da equação de Rackett). Campbell e Thodos consideraram que

                                                                                                               

onde a e b  são parâmetros dependentes da substância - não polar, polar ou quântica [6]. Este método faz ainda a estimativa do volume crítico.

 

 

JAVA     Método de Elbro et al. [7]

No método de Elbro et al. o volume molar do líquido é calculado por

                                                                                               

onde ni designa o número de grupos do tipo i na molécula e Dvi é o volume molar do grupo i cuja dependência na temperatura é polinomial,

                                                                                

Os valores de Ai, Bi e Ci encontram-se tabelados para os diversos grupos [7]. Uma das vantagens deste método é que ele pode aplicar-se a polímeros- obtém-se o volume molar (densidade) do monómero e daqui a densidade do polímero [1b].

 

Líquido comprimido

JAVA     Métodos de HBT[5, 10], Chueh e Prausnitz[9] e de Aalto et al.[13]

1 - No método de HBT calcula-se em primeiro lugar o volume molar do líquido saturado pela expressão [5]

                                                                                         

onde V* é um volume característico da substância (de valor entre 1 a 4% do volume crítico), wRKS é o factor acêntrico da equação de Redlich-Kwong-Soave(RKS) (encontrado por ajustamento da equação de Soave à pressão de vapor da substância pura). VR0 e VRd são funções de Tr. Os parâmetros V* e wRKS  estão tabelados [1a] para centenas de substâncias de diferentes classes     .  No caso de V* não estar tabelado pode estimar-se pela expressão

                                                                         

Se existir um valor experimental da densidade (ou volume molar) do líquido saturado a equação (6 ) pode ser utilizada para calcular V*. Thomson et al. [10] extenderam o método ao líquido comprimido utilizando a equação de Tait. Propuseram,

                                                                                       

onde b  é uma função de Tr e de wRKS . Na ausência de wRKS  pode utilizar-se o factor acêntrico de Pitzer, w .

ATENÇÃO - Sempre que utilizar o método de HBT deverá assinalar o tipo de substância que vai considerar pressionando os botôes de rádio (O) na applet JAVA.

2 - Chueh e Prausnitz propuseram para estimar a densidade do líquido comprimido a correlação [9],

                                                                            

onde P é a pressão,  T a temperatuta, Zc o factor de compressibilidade e Ps é a pressão de vapor à temperatura T. N é um parâmetro calculado a partir dos valores de Tr e de  w. O valor da  densidade do líquido saturado, rs é calculado por

                                                                                        

onde Vr0 , Vr1 e Vr2  são funções de Tr. Dada a incerteza que está frequentemente associada a  rc  esta propriedade pode ser eliminada na equação anterior desde que exista o conhecimento de um único valor experimental da densidade de saturação, ( rs)0 a uma temperatura T0 diferente de T, pois

                                                                                  

3 - No método de Aalto et al. é utilizada a expressão [13],

                                                                          

onde P e Ps têm o significado já apontado anteriormente. A é função da temperatura reduzida e B é função da temperatura reduzida e de wRKS (ou w).C e D são constantes. Para aplicação do método é necessário conhecer o valor do volume molar (ou densidade) do líquido saturado à temperatura T.No caso de não se dispôr desse valor pode efectuar-se a estimativa pelo método de Campbell e Thodos ou de HBT entre outros.

 

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (EXPERIMENTE AS APPLETS!)

Para o isobutano líquido a 310.93 K determinar o volume molar do líquido saturado e o do líquido comprimido à pressão de 1.379x104 kPa. Sabe-se que a pressão de vapor da substância à temperatura indicada é de 495.8 kPa e que os valores experimentais do volume molar são 108.2 e de 102.7 cm3 mol-1  nas condições de saturação e à pressão de 1.379x104 kPa, respectivamente.

Resolução:

 Do banco de dados da ref.[1] retira-se para o isobutano (ou 2-metilpropano): Tc = 408.2 K, Pc = 3650 kPa,                Vc = 263 cm3 mol-1, w= 0.183 e e M = 58.124. Da ref.[5] vem w(RKS)=0.1825, V* = 256.8 cm3 mol-1.

 (i) Considerando o valor de w dado, calculando V* pela eq. (6),e selecionando "parafinas" na Applet, o método de      HBT fornece: V(líquido saturado) = 108.7 e V(líq. comprimido) = 103.25 cm3 mol-1 - desvios de +0.7 e  +0.5 %, respectivamente. Selecionando "Hidrocarbonetos geral" os desvios são -0.2 e -0.4 % , respectivamente. 

Considerando os valores de w(RKS) e de V* da ref.[5] resultam desvios de 0.6 e 0.5 %, respectivamente.

(ii) Pelo método de Chueh e Prausnitz obtém-se: V(líquido saturado) = 112.37 e V(líq. comprimido) = 105.16 cm3 mol-1 - desvios de +3.8 e  +2.4 % , respectivamente. Aplicando o método relativo, eq. (10) (com T0=293.15 K, V0=104.35 cm3 mol-1 vd. ref.[1] ) vem: V(líquido saturado) = 109.16 e V(líq. comprimido) = 102.16 cm3 mol-1 - desvios de +0.8 e  -0.5 % , respectivamente.

(iii) Pelo método de Aalto et al., utilizando o valor experimental do volume molar do líquido saturado dado a 310.93 K obtém-se V(líq. comprimido) = 102.59 cm3 mol-1 - desvio de -0.1 %. 

 

DESEMPENHO DOS MÉTODOS

  1- No desenvolvimento do método de Campbell e Thodos foram utilizadas 62 substâncias (não polares, polares, com associação molecular e quânticas). O desvio médio percentual apontado para a densidade do líquido saturado é de   1.32 % - num estudo efectuado pelos autores para 4942 valores experimentais. No cálculo do volume crítico o desvio médio  assinalado por comparação com valores da literatura é de 2.4% (estudado para 68 substâncias).

  

2- A correlação de HBT é relativamente fácil de utilizar e aplica-se a uma grande variedade de substâncias. Pode

 aplicar-se a misturas   . Para o líquido saturado foi testada em 2657 valores da densidade para 97 hidrocarbonetos e 

1851 valores para 103 outros compostos. O desvio percentual médio obtido foi apenas de 0.37 %. O desvio absoluto (em percentagem) no cálculo do volume molar do líquido saturado distribui-se assim pelos vários tipos de substâncias - quando V* é previsto pela eqn.( 6):

 

Parafinas 1.23 %; Olefinas e diolefinas 1.43 %; Cicloparafinas 1.00%; Aromáticos 0.58%; 

Compostos de enxofre 1.98 %; Hidrocarbonetos com Flúor 0.82 %; Líquidos criogénicos 0.85 %; 

Gases condensáveis 3.65 %.

 

Quando se faz w(RKS)=w obtêm-se em regra desvios inferiores a 1 % para o líquido saturado.

 

3- No método de Chueh e Prausnitz os desvios percentuais rondam 3 a 6% na região compreendida entre a temperatura do ponto triplo e a do ponto crítico e até pressões reduzidas da ordem de 30 (P=30 Pc). Os desvios em especial para o líquido saturado são menores quando se utiliza o método relativo.

 

4 - Os desvios no  método de Aalto et al. são irregulares e geralmente são superiores aos encontrados com os outros métodos.

 

NOTAS IMPORTANTES

Os valores de partida (temperatura crítica, pressão crítica, factor acêntrico de Pitzer ou de RKS...) necessários para as applets podem por sua vez ser estimados se necessário:

      ESTIMATIVAS DOS PARÂMETROS CRÍTICOS E DO FACTOR ACÊNTRICO:    

      

Sugestão: O valor do volume molar (ou densidade) do líquido saturado a uma dada temperatura pode ser efectuado com o método de Campbell eThodos com rigôr aceitável para aplicação nos métodos do líquido comprimido.

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 [1a] Reid, R. C.; Prausnitz J. M; Poling, B. E., " The properties of gases and liquids", 

       4th Edt.,McGraw-Hill, New York, 1987.

 [1b] Poling, B. E.; Prausnitz J. M.; O'Connel J. P. " The properties of gases and liquids", 

       5th Edt.,McGraw-Hill, New York, 2001.

 [2]  Rackett, H. G.  J. Eng. Chem. Data 15 (1970) 514.

 [3]  Gun, R. D.; Yamada, T. AIChE J. 17 (1971) 1341.

 [4]  Spencer, C. F.; Danner, R. P.  J. Chem. Eng. Data 17 (1972) 236.

 [5]  Hankinson, R. W.; Thomson, G. H. AIChE J. 25 (1979) 653.

 [6]  Campbell, S. W.; Thodos, G. J. Chem. Eng. Data  30 (1985) 102.

 [7]  Elbro, H. S.; Fredenslund, A.; Rasmussen; P. Ind. Eng. Chem. Res. 30 (1991) 2576.

 [8]  Yen, L. C.; Woods, S. S. AIChE J. 12 (1966) 95.

 [9]  Chueh, P. L.; Prausnitz, J. M. AIChE J. 13 (1967) 15; (1969) 471.

[10] Thomson, G. H.; Brobst, K. R.; Hankinson, R. W. AIChE J. 28 (1982) 671.

[11] Huang, Y.-H.; O'Connel, J. P. Fluid Phase Equil. 37 (1987) 75.    

[12] Chang, C. H.; Zhao, X. Fluid Phase Equil. 58 (1990) 231.

[13] Aalto, M.; Keskinen, K. I.; Aittamaa, J.; Liukkonen, S. Fluid Phase Equil. 114 (1996) 1.

DADOS NA LITERATURA SOBRE rL e VmL

Tekác,, V.; Cibulka, I.; Holub, R. Fluid Phase Equil.  19 (1985) 33-149 (Bib. DEQ)

Bib. DEQ = Publicação existente no Departamento de Eng. Química da FCTUC.

 

 Este artigo faz a compilação das várias técnicas experimentais utilizadas na determinação de propriedades PVT de líquidos e de misturas líquidas fornecendo uma descrição breve dos métodos e das técnicas existentes. Sumariza as equações que se empregam habitualmente para descrever o andamento do volume molar. Fornece informação em tabelas sobre a bibliografia referente às determinações de valores experimentais para mais de 350 líquidos puros e 170 misturas binárias. (Recomendado)

 

 

Landolt-Boernstein Zahlenwerte und Funktionen aus Physik, Chem., Astronomie, Geophysik und Technik. II. Band I. teil. Mechanische Thermische Zustandgroessen. Springer, Berlin, 1971 (Bib. DEQ)

Vargaftik, N. B. "Tables on the Thermophysical Properties of Liquids and Gases". John Wiley, New York, 1975 (Bib. DEQ).

 

Informação dedicada a líquidos mais usuais.
 

Allen, G.; Gee, G.; Mangaraj, D.; Sims, D.; Wilson, G. J. Polymer 1 (1960) 456-478;

Isaacs, N. S. "Liquid Phase High Pressure Chemistry".John Wiley,New York, 1981.

 

Informação sobre a densidade e a compressibilidade de um elevado número de substâncias orgânicas.