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Ferramentas para
Análise Ambiental de Processos Químicos |
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Neste capítulo vão ser referidas de
uma forma breve algumas das ferramentas mais notórias neste momento
ao dispor da engenharia química para a análise ambiental de processos
químicos. Dentro desta lista, será desenvolvida com especial destaque
a ferramenta que serviu de inspiração para a segunda parte deste trabalho:
o Waste Reduction Algorithm (WAR), por possuir potencialidades que se
salientam, no que diz respeito à quantificação de impacte ambiental.
4.1 – Ferramentas
Desde a década de 80, a questão ambiental
têm tido uma presença cada vez mais assídua nas principais revistas
de engenharia química, como p. ex. a Computers & Chemical Engineering.
De uma forma concisa, a lista das ferramentas mais notórias é a seguinte:
A) Projecto Molecular
B) Análise ambiental e revisão do projecto
C) Projecto macroscópico e avaliação de impacte ambiental
4.2 – Algoritmo para Redução de Resíduos (WAR)
As primeiras ferramentas ambientais
para processo datam da década de 70, altura em que foi introduzido o
conceito de redes de tranferência de calor (heat exchange networks -
HENs). As HENs surgiram como forma de minimizar o consumo energético
de processos de produção. Alguns dos investigadores mais notórios nesta
área foram Linnhoff, Shenoy, Gundersen e Naess. [4.12]
Na sequência deste conceito, surgiu,
nos finais da década de 80, o análogo para a extensidade massa: redes
de transferência de massa (mass exchange networks - MENs), sendo estas
desenvolvidas por El-Halwagi e Manousiouthakis. A ideia principal era
concentrar os poluentes em determinadas correntes, removendo-os de outras
correntes. Esta técnica permite reduzir o volume de resíduos gerados
no processo.
Na década de 90 assistiu-se ao aparecimento
de algumas metodologias baseadas em HENs e MENs que tentam maximizar
a eficiência destas duas técnicas de prevenção de poluição. Um dos livros
publicados com maior visibilidade foi “Pollution Prevention through
Process Integration” de El-Halwagi (1997).
Mas se estas duas técnicas permitem
reduzir a quantidade de resíduos gerada no processo, apresentam uma
lacuna qualitativa, ou seja, nenhuma delas considera o impacte da poluição.
Imaginemos que, com esta técnica, se identificam duas opções de processo:
uma que gera 100kg/h de resíduos e outra 200kg/h. Na verdade, a diferença
entre o impacte ambiental da 1ª corrente e o da 2ª corrente pode justificar
que a melhor opção seja a de 200kg/h. As primeiras considerações sobre
a quantificação de impacte ambiental em ferramentas de análise de processos
químicos surgiram na criação de uma metodologia que se tem vindo a tornar
conhecido: o algoritmo WAR. [4.10]
Esta metodologia foi apresentada em 1994 por Hilaly e Sikdar da EPA (Environmental Protection Agency americana), e centrava-se num balanço à poluição gerada num processo, permitido localizar as substâncias poluentes no decurso do processo de transformação, que é uma das etapas do ciclo de vida, como se indica na figura abaixo.
Fig. 4.1 – Actuação do Algoritmo
WAR no Ciclo de Vida.
Em 1997, foi apresentada uma alteração
ao algoritmo, por Cabezas, Bare e Mallick. A alteração consiste num
balanço ao impacte ambiental potencial (PEI - potential environmental
impact), sendo a variável PEI um índice quantitativo.
Em 2000, o algoritmo WAR foi incorporado
no simulador de processos ChemCAD.
O impacte ambiental potencial (PEI)
de uma dada quantidade de matéria ou energia define-se como o efeito
que esta matéria ou energia teria sobre o ambiente se fosse emitida.
É um índice de natureza probabilística, ou seja, uma estimativa do efeito
que esta emissão teria em termos médios. Trata-se portanto de uma quantidade
conceptual que não pode ser medida directamente. Mas é possível construir
uma teoria que relacione o impacte ambiental potencial com quantidades
mensuráveis.
Tal como é usual fazer-se em engenharia
química balanços mássicos e energéticos, também é possível efectuar
um balanço ao impacte ambiental potencial. Este balanço também irá envolver
a energia consumida pelo processo. Esta geração de energia pode considerar-se
como uma unidade de geração de electricidade simples, de acordo com
a figura 4.1.
Fig. 4.2 – Balanço mássico
e energético global a uma instalação industrial. A linha a tracejado
é a fronteira.
O balanço ao PEI diz que o impacte
ambiental potencial pode sair e entrar no sistema:
A variável Isistema é a
quantidade de PEI dentro do sistema (sendo o sistema constituído pelo
processo químico mais o processo de geração de energia).
No estado estacionário (para processos
contínuos), o PEI dentro do sistema é constante, e o balanço toma a
forma:
Esta expressão pode ser usada para
gerar uma série de índices que caracterizam a eficiência ambiental interna
e externa do sistema.
Para fazer uso da equação de estado
estacionário (4.2) é necessário relacionar o PEI com quantidades mensuráveis.
Mallick e Cabezas desenvolveram uma teoria linear que relaciona o PEI
com quantidades como caudais de correntes, composições, e impactes ambientais
específicos. As equações para o processo químico são:
Onde
:
As equações (4.3) e (4.4) contêm apenas
PEIs de substâncias puras. Desprezam portanto os efeitos combinatórios
que a presença de várias substâncias numa corrente podem ter. Apesar
de a energia emitida para o ambiente ter algum peso, as emissões de
resíduos energéticos podem muitas vezes tomar-se como desprezáveis.
Assim, Ywe=0. Isto é consistente com o facto de: as instalações
de processos químicos não emitirem muita energia residual para o ambiente;
para processos químicos, o PEI associado à massa possuir maior peso
que o PEI associado à energia.
As equações para os processos de geração
de energia são:
onde:
Especificamente dentro do processo
de geração de energia, considera-se que, nas correntes de saída de energia,
têm maior impacte ambiental aquelas que são em fase gasosas. Assim,
no cálculo de
As equações (4.2) a (4.8) podem ser
usadas para gerar índices que caracterizem a eficiência ambiental relativa
do processo. Há dois tipos de índices: os associados com output de PEI
e os associados com a geração de PEI.
De entre os índices associados com
output, os dois mais importantes são o caudal total de output de impacte
onde
De entre os índices associados à geração,
os mais importantes são o caudal total de impacte gerado
(4.11)
(4.12)
Regra geral, estes índices serão tão
mais baixos quanto mais elevada for a eficiência ambiental do processo,
ou seja quão mais baixo for o impacte potencial que o processo probabilisticamente
terá sobre o ambiente. Uma solução trivial para baixar os índices até
zero é reduzir todos os caudais mássicos a zero, mas isso significaria
não ter processo algum. O objectivo não pode claramente ser este, uma
vez que existe uma procura pelo produto. O uso de índices também pode
não ser aplicável em algumas situações: quando o produto é um intermediário
que é directamente alimentado a outro processo dando origem a um novo
produto, ou quando existe uma necessidade da sociedade tão grande por
esse produto que o critério ambiental se torna desprezável (ex: apesar
da quimioterapia ser altamente nociva à saúde humana, ninguém pensaria
em proibi-la).
Para implementar o algoritmo WAR é
necessário definir categorias de impacte ambiental quantificáveis. O
impacte ambiental potencial total de uma substância k, Yk, pode determinar-se somando o PEI específico
de cada categoria,
Onde al é a ponderação dada à categoria l que, normalmente,
varia entre 0 e 10.
As categorias de impacte ambiental
basearam-se num estudo de Heijungs, Guinee, Huppes, Lankreijer, Udo
e Wegenersleeswijk de 1992. Há duas áreas principais: atmosférica e
toxicológica.
Dentro da atmosférica contam-se: GWP – global warming potential ODP- ozone depletion potential AP – acidification and acid-rain potential PCOP – photochemical oxidation or smog formation
Dentro da toxicológica contam-se: HTPI – human toxicity potential by ingestion HTPE – human toxicity potential by inhalation or dermal exposure ATP – aquatic toxicity potential TTP – terrestrial toxicity potential
Para implementar o algoritmo WAR, recorre-se
ao ChemCAD 4.0 ou 5.0. Este tem uma base de dados que possui valores
de
Assim, o cálculo é feito do seguinte
modo:
onde (score)kl é o valor
da substância k numa escala arbitrária para a categoria l, e <(score)k>l
é o valor médio de todas as substâncias na categoria l.
Os valores da base de dados nas várias
categorias foram determinados a partir de estudos de Heijung de 1992.
Actualmente, esta base de dados possui
mais de 1600 substâncias.
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Bibliografia [4.1]
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through Substitution - Tools and Methods for Pollution Prevention, NATO
Science Series 62; Kluwer Academic Press (1999). [4.2]
Constantinou, L. et al; Computer
Aided Product Design – Problem Formulations, Methodology and Applications;
Computers and Chemical Engineering 20 (1996), p. 685-699. [4.3]
CAPEC - Computer Aided Process Engineering Center, Department of Chemical
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Venkatasubramanian, V. et al;
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Chemical Engineering 18 (1994), p. 833-844. [4.5]
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Heijungs, R. et al; Life Cycle
Assessment; United Nations Environment Program - UNEP, Paris, França (1996). [4.9]
Bakshi, B.; A Thermodynamic Framework for Ecologically Conscious Process
Systems Engineering; Computers and Chemical Engineering 24 (2000), p. 1767-1773. [4.10]
Young, D. e Cabezas, H.; Designing Sustainable Processes with simulation: the
waste reduction (WAR) algorithm; Computers and Chemical Engineering 23 (1999),
p. 1477-1491. [4.11]
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the Environmental Impact of Process Plants: A Process Systems Approach; Computers
and Chemical Engineering 19 (1995), p. S39-S44. [4.12]
Sikdar, S. e El-Halwagi, M.; Process Design Tools for the Environment; Taylor
& Francis Publishing Company, E.U.A. (2001). |
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