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Enquadramento da Questão Ambiental

 

 

 

 

 

 

As operações industriais, em particular de processos químicos, estão profundamente associadas a significativos impactes ecológicos. Estes podem ser qualificados [2.1] segundo categorias (índices) de impacte ambiental:

 

*  consumo energético

*  consumo de recursos

*  efeito de estufa

*  depleção do ozono

*  acidificação

*  eutrofização (terrestre, aquática)

*  smog fotoquímico

*  toxicidade na saúde humana

*  ecotoxicidade (terrestre, aquática)

*  área usada/diversidade de espécies

*  odor

*  ruído

 

Face a problemas ambientais, no passado, a solução tem passado essencialmente por tratamentos de fim-de-linha. Estes consistem em equipamento final que transforma os resíduos (na fase sólida, líquida, ou gasosa) em matérias mais inócuas, a partir da fronteira da instalação. Contudo, esta via possui inúmeras desvantagens:

 

*   penalizações com custos proibitivos tornam estas opções inviáveis

*  a legislação muda mais frequentemente do que os processos podem ser modificados

*  regulamentação inesperada pode surgir a qualquer altura devido a uma melhor compreensão dos impactes ambientais, não existindo ainda uma metodologia para incorporar estas incertezas na estrutura de custos de produção.

*  a competitividade do mercado dificulta muito a situação dos processos que se encontram já sobrecarregados com custos associados a resíduos.

 

Assim, é hoje largamente reconhecido que a abordagem mais fundamental e sustentável para minimizar a poluição industrial é endereçar as causas de raiz, através da remodelação de processos, produtos, e práticas operatórias, de forma a minimizar impactes negativos no ambiente. Estas mudanças de projecto podem fazer-se para processos novos ou para processos existentes (retrofitting).

 

Se no passado o principal factor motivador era a procura de redução de custos e aumento de qualidade, hoje em dia, a incorporação de preocupações ambientais nas primeiras etapas de projecto de processos novos ou existentes é imperativa e resultará em ganhos ambientais significativos.

 

As grandes motivações, que funcionam como driving-forces para toda a evolução que se espera nesta área, residem necessariamente na indústria. Robert Sylvester [2.2], da DuPont, explica porque é que uma análise ambiental não é um encargo despropositado para uma equipa de projecto já sobrecarregada com objectivos ambiciosos, um orçamento limitado, e planeamento difícil:

 

Uma análise ambiental permite...

 

* Identificar oportunidades para reduzir resíduos do processo e aumentar lucros

*  Identificar formas de reduzir custos de tratamento de resíduos

* Identificar oportunidades para reciclar materiais que de outra forma se tornariam resíduos

* Identificar oportunidades para recuperar materiais como produtos vendíveis

* Cumprir objectivos de minimização de resíduos estipulados em termos de declarações corporativas

* Cumprir declarações de associações comerciais e industriais (ex.: Responsible CareÒ)(*)

* Identificar oportunidades para simplificar limitações legais e reguladoras

* Garantir comunicação sobre enquadramento legal e regulador dentro da equipa de projecto

* Cumprir limites locais e regionais para prevenção de poluição

* Garantir verificação da legislação vigente

 

 

Em 1992, a DuPont, em colaboração com a norte-americana EPA (Environmental Protection Agency), iniciou um projecto de análise ambiental a 15 processos. Conclui-se que se poderia poupar 14.900.000 USD anualmente (11% de poupanças em custos variáveis de gastos de resíduos, 15% de uma melhor recuperação de produtos, 74% de melhorias no processo feitas na fase de análise do projecto).

 

O momento que traduz maiores oportunidades para esta melhoria ambiental, económica, e organizacional é a fase conceptual de projecto de processo. O gráfico abaixo ilustra qualitativamente oportunidades e custos associados a diferentes fases do projecto de um processo químico.

 

Fig. 2.1 – Ciclo de Vida de um Processo. [2.3]

Por nível conceptual de projecto de processo entende-se:

1 - Determinação da fronteira do sistema

2 - Objectivos e funções objectivo

3 - Restrições

4 - Síntese de caminhos de reacção - tornar mais verdes produtos, matérias primas e materiais auxiliares, optimização de caminhos de reacção

5 - Geração de flowsheets alternativos, sistemas de separação, redes de recuperação de calor e massa, sistema de utilidades, sistema de tratamento de resíduos

6 - Determinação de critérios ambientais

7 - Selecção de métodos de optimização

 8 - Análise de sensibilidade

 

 


Esta problemática é relativamente recente, estando a ser desenvolvidas nestes últimos anos ferramentas e metodologias para preencher estas lacunas. Tal acontece a todos os níveis, do mais macroscópico ao mais microscópico, do ponto de vista de operação até ao ponto de vista da estratégia da empresa.

 

De uma forma muito sucinta, os temas abordados são:

 

 

i)

Análise Ambiental e Revisão do Projecto

Avaliação do desempenho ambiental e incorporação de preocupações ambientais no projecto, por parte da gestão de topo.

 

ii)

Integração do Processo para o Ambiente

Ênfase na unidade do processo.

 

iii)

Síntese do Processo e Determinação de Tecnologias Preventivas

Metodologias e ferramentas para alcançar flowsheets aceitáveis (para fábricas novas ou já existentes)

 

iv)

Projecto Macroscópico e Avaliação de Impacte Ambiental

Conhecer os efeitos dos resíduos fora das fronteiras físicas da fábrica

- LCA (Life Cicle Analysis): contabilização do impacte ambiental no ciclo de vida do processo e produto;

- avaliação de Impacte Ambiental: impacte de emissões/descargas na saúde humana, etc.;

- utilização de resíduos entre unidades fabris: os resíduos de uma fábrica podem ser matérias-primas ou aditivos de outra.

 

v)

Projecto Molecular e Selecção

Projecto de produtos finais e intermédios não tóxicos:

- solventes, produtos, fluidos de refrigeração “verdes”, meios reaccionais e meios de separação não tóxicos;

- síntese e catálise “verdes”, reacções ambientalmente não nocivas e minimização de subprodutos.

 

As grandes necessidades exprimem-se através da falta de abordagens sistemáticas, que resultam numa análise difusa, em particular nesta fase inicial. O próximo passo terá de ser o desenvolvimento de procedimentos de projecto que sejam sistemáticos e largamente aplicáveis.

 

Se as grandes empresas vêem a via da prevenção de poluição como a melhor do ponto de vista do negócio, precisam de procedimentos que reconciliem métricas de custo, qualidade, segurança, e impacte ambiental. [2.4]

 

 

 

Bibliografia

 

[2.1] Yang, Y. e Shi, L.; Integrating environmental impact minimization into conceptual chemical process design – a process systems engineering review; Computers & Chemical Engineering, 24 (2000), 1409-1419.

 

[2.2] Sikdar, S. e El-Halwagi, M.; Process Design Tools for the Environment; 1ª ed., Taylor&Francis, E.U.A. (2001).

 

[2.3] Cano-Ruiz, A.; Decision Support Tools for Environmentally Conscious Chemical Process Design; PHD Thesis in Chemical Engineering, Massachusetts Institute of Technology, E.U.A. (2000).

 

[2.4] Holliday, C. et al; Walking the Talk – The Business Case for Sustainable Development; 1ª ed., Greenleaf Publishing, Reino Unido (2002).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[ Custos e Impactes Ambientais no Projecto de Processos Químicos ]

[ Resumo ]

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[ Ferramentas para Análise Ambiental de Processos Químicos ]   [ Projecto de Caminhos Reaccionais ]  

[ CASE STUDY - Produção de Etanol ]   [ Conclusões ]   [ Nomenclatura ]